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A crise financeira da Santa Sé

Por Aristoteles Atheniense

Passados os primeiros dias de especulações sobre as medidas administrativas que serão implantadas na Santa Sé, surgem indagações preocupantes quanto à sua saúde financeira, devido aos números negativos conhecidos compreendendo a gestão do Papa Bento XVI.

Causa espécie o fato de o orçamento da Santa Sé, nos seis últimos anos, ter apresentado índice comprometedor, embora não se deva confundir suas contas com as do Vaticano.

No passado, não era conhecida a realidade dos cofres da Igreja Católica, inobstante as notícias da existência de aplicações financeiras e de um patrimônio imobiliário bastante expressivo.

Somente a partir do triênio 2004/2006 os valores vieram a público, compreendendo doações contabilizadas como receita, destinadas a atender às atividades institucionais que não dispõem de renda própria.

Segundo dados fornecidos por John Pollard, historiador da Universidade de Cambridge, o déficit no setor institucional, em 2006, atingiu a 31 milhões de euros. O prejuízo alcançou, também, a mídia oficial, que inclui a rádio do Vaticano, o jornal “L’Osservatore Romano” e o centro televisivo.

A situação do Vaticano é melhor do que a da Santa Sé devido ao que aufere com a exploração de museus e do que obtém com o turismo. Com esses recursos já socorreu a Santa Sé em algumas fases de crise, impedindo que viesse a enfrentar dificuldades permanentes. Recentemente, sofreu pressão até do governo italiano, que antes lhe concedia isenção tributária (desde 2005), o que não mais acontece.

Um dos pontos vulneráveis do Vaticano vêm sendo os escândalos ocorridos no IOR (“Istituto per Le Opere di Religione”), que se tornou conhecido como banco do Vaticano.

Assim que Bento XVI renunciou ao Pontificado, a primeira versão surgida, para o seu desalento, foi a existência de fatos comprometedores naquele órgão, que não conseguira debelar.

Assinale-se que nem mesmo os cartões de crédito do Banco do Vaticano eram aceitos em pontos turísticos da cidade-estado, tal o desprestígio daquele estabelecimento junto ao comércio local. A tentativa do Papa em instituir um órgão de fiscalização não se concretizou, tornando-se a cada dia mais inquietante o que ocorria em sua administração.

Em 2012, foram divulgadas na imprensa italiana algumas cartas enviadas pelo arcebispo Carlo Maria Vigano, ex-secretário-geral do Vaticano, dirigidas a Bento XVI. Nessa correspondência, ficou assinalado que, quando Vigano fora investido naquele posto, em 2009, ali encontrara uma “situação desastrosa” de “gestão caótica”.

Certamente, a fonte mais autorizada para esses esclarecimentos será o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado que, no final de 2012, chegara a propor uma gradual redução de custos.

Bertone, além de cardeal camerlengo é o encarregado pela administração dos bens e dos direitos temporários da Santa Sé, ajudado por três cardeais assistentes.

É, pois, compreensível que o Papa Francisco não queira promover substituições na Santa Sé de afogadilho, antes de inteirar-se da real situação da Igreja Católica no seu comando.

 

Atheniense

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