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A estranha morte de João Goulart

Por Aristoteles Atheniense

A proposta feita pela ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, de investigar a morte de João Goulart em seu exílio na Argentina, em 1976, merece ser levada a fundo pela Comissão Nacional da Verdade.

O acadêmico Carlos Heitor Cony, em 2003, publicou a obra “O beijo da morte”, juntamente com a escritora Anna Lee, focalizando a estranha coincidência da morte de Jango, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitscheck, no curto espaço de um ano, quando estavam prestes a uma reconciliação, resistindo ao regime militar que os perseguia.

Segundo aquele jornalista, “apesar das provas existentes, que dão como natural a morte dos três líderes, sempre duvidei das conclusões oficiais, e não apenas nesse assunto, mas na história em geral, que é uma sucessão de casos obscuros e mal resolvidos”.

Carlos Heitor Cony visitou o túmulo de Jango em São Borja, que se tornou um dos mais importantes pontos turísticos da cidade. Segundo ele, “nos muitos artigos que li sobre a morte de Jango, há referência à possibilidade de o corpo do ex-presidente não estar mais lá. Teria sido retirado para evitar a exumação que poderia provar seu envenenamento”.

Tratava-se da chamada operação Condor, promovida por ditadores da América do Sul numa ação interligada, destinada a assegurar a continuidade do regime militar no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.

Conforme salientou a advogada Rosa Cardoso, que integra a Comissão da Verdade, há um conjunto de “indícios concludentes” que justificam a investigação agora cogitada.

Seria conveniente que a Comissão se detivesse no exame de dados recolhidos por Carlos Heitor Cony, que, em seu livro, sugere que o desaparecimento de líderes políticos de facções diferentes talvez importasse numa resistência ao restabelecimento da democracia nos países onde imperava o despotismo militar.

Segundo revelação do senador Pedro Simon, após a morte de Jango, tentou-se a realização de uma autopsia. Mas essa não foi permitida, eliminando qualquer vestígio capaz de colocar sob suspeita o ataque cardíaco que lhe fora atribuído pelas autoridades da época.

Essa informação encontra respaldo na versão levantada no livro de Cony, que teria, inclusive, matutado quanto à possibilidade de remover a tampa de cimento do túmulo, a fim de apurar se o corpo de Jango ali estaria ou não.

A anunciada ida do Ministério Público a São Borja para colher informações junto ao médico Odil Pereira, que teve acesso ao cadáver de Jango antes de seu sepultamento, deverá concorrer para a obtenção de elementos convincentes a respeito das notícias contraditórias surgidas à época do óbito.

Na pesquisa que vier a ser feita, deverão ser ouvidas, também, algumas autoridades estrangeiras, devido à atuação implementada pela Operação Condor, visando a eliminação dos que ameaçassem o autoritarismo implantado no Cone Sul.

O desaparecimento de João Goulart, como o de Juscelino e, até mesmo, o de Carlos Lacerda, não deve se considerado fato normal numa fase em que o Estado de Direito fora suprimido.

 

Atheniense

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