A falsa imagem de Lincoln
Na comemoração dos trinta anos da CUT, ocorrida em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva renovou seu inconformismo contra a imprensa, responsabilizando-a pela criação de uma imagem negativa de seu governo junto à sociedade.
Lula, em seu pronunciamento, comparou-se ao ex-presidente Abraham Lincoln, que, como ele, teria sido alvo de perseguição pelos jornais do país: “Estes dias, eu estava lendo o livro de Lincoln e fiquei impressionado de como a imprensa, em 1860, batia no Lincoln, igualzinho batia em mim”.
Ainda acrescentou: “Como o coitado não tinha computador para ver a notícia, tinha que ir ao telégrafo e ficava numa sala esperando a notícia, enquanto nós aqui podemos xingar o outro em tempo real”.
Desde que deixou o Planalto, Lula empenha-se em conservar o seu perfil, ainda que promovendo comparações destemperadas entre a sua gestão e a de seu antecessor. Esta estratégia lhe asseguraria prestígio e permanência na mídia, tanto no Brasil como no exterior.
O lema adotado pelo PT na comemoração de seu decênio, isto é, de ser um partido “do povo, pelo povo e para o povo”, não passa de uma imitação do trecho final do histórico discurso que Lincoln proferiu em Gettysburg, ao final da Guerra da Secessão, que culminou com a unificação do norte com o sul.
Ao contrário de Lula, o líder republicano, mesmo quando sofria acerbas críticas dos jornais que lhe faziam oposição, não os considerava inimigos, por mais amargas que fossem as censuras à campanha que deflagrara em prol da abolição da escravatura.
O fato de alguns periódicos o qualificarem como “terrorista inculto”, denominando-o de “senhor fracasso’, devido às frustrações conhecidas, tanto na política como na vida pessoal, não concorreu para que verberasse os seus detratores, dispensando à imprensa a atenção que lhe era devida como veiculo divulgador da opinião pública.
Enquanto Lincoln passou da condição de simples lenhador a de advogado combativo, o mesmo não ocorreu a Lula, que nunca perdeu a oportunidade de acoroçoar seus opositores, assim procedendo com arrogância e orgulho, inobstante ter sido torneiro mecânico, pois, sempre se considerou detentor do monopólio da verdade.
Ao invés de pretender promover um confronto entre as suas dificuldades e os tormentos de Lincoln, nas criticas que ambos receberam quando estavam no governo, o antigo operário lucraria mais se buscasse em Ruy Barbosa uma advertência de que, há muito, está carecendo: “Os chefes de Estado não se perdem pelo trabalho de seus inimigos: perdem-se pelos planos de sua própria ambição, insuflados pela subserviência de seus cotejadores”.
A história tem demonstrado que a vaidade e a ambição põem sempre a meta dos nossos desejos muito além da nossa capacidade.
Falta ao líder petista meditar sobre esta reflexão.
Aristoteles Atheniense,
Advogado e Conselheiro Nato da OAB.