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A viagem frustrada de Kofi Annan

A visita do emissário internacional Kofi Annan a Damasco serviu para demonstrar o alcance da perversidade de Bashar al-Assad à frente do governo sírio. Kofi Annan é figura que desfruta do maior respeito em todo o mundo pela atuação pacifista desenvolvida como secretário-geral da ONU.

Diante do quadro dantesco que vive a Síria, num conflito onde já pereceram 7.600 pessoas, desde que eclodiram os protestos contra o regime atual, era de se esperar que Assad pelo menos simulasse disposição em ouvir o representante da ONU quanto à proposta que trazia.

Isto não ocorreu, tendo sido descartada a possibilidade de iniciar uma transição política ou mesmo um processo de reformas, enquanto suas forças enfrentarem resistência armada.

No mesmo dia em que Bashar recebeu o enviado das Nações Unidas e da Liga árabe, tropas sírias invadiram, à noite, a cidade de Idlib, considerada um dos redutos de oposição ao regime. Em razão dos bombardeios e combates entre o exército e rebeldes, pereceram 62 pessoas e outras 150 foram presas, com destino ignorado.

De nada resultaram os dois encontros mantidos com o tirano e seu primeiro-ministro Walid Muallem. Ambos ficaram indiferentes às “várias propostas colocadas sobre a mesa para por fim à violência, para dar acesso às agências humanitárias e à Cruz Vermelha, com a libertação de presos e o início de um diálogo político”, segundo informação de Rami Abdel Rahmane, presidente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Diante da insensibilidade do governo local, Annan pediu ao presidente que desse “passos concretos para colocar fim à presente crise”, sem que obtivesse nenhuma manifestação em prol de uma solução que eliminasse o morticínio que dura há mais de ano.

O anunciado encontro com “líderes da oposição e jovens ativistas”, assim como “com proeminentes empresários e empresárias”, buscado por Kofi Annan, certamente não concorrerá para o término do conflito, o que somente seria viável quando houvesse ajuste de propósitos entre os grupos beligerantes.

A viagem de Kofi Annan não gerou qualquer pronunciamento da China ou da Rússia, países que têm apoiado Bashar al-Assad, relutando em subscrever documento do Conselho de Segurança que importe em critica à sua atuação criminosa.

Enquanto os países comunistas não se dispuserem a contribuir para a pacificação reclamada em todos os continentes, persistirá o propósito governamental de esmagar a rebelião, pouco importando o número de vítimas que é cada vez maior.

O Ministério de Informação sírio visa, agora, impedir que a notícia da tragédia ultrapasse as suas fronteiras. Advertiu aos jornalistas estrangeiros que o país adotará medidas eficazes contra a mídia, impedindo a entrada irregular de correspondentes que divulguem o estado calamitoso em que a Síria se encontra.

Como o órgão encarregado de apurar as atrocidades foi confiado ao brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro e, diante das repressões impostas pelo governo avassalador, era de se esperar que houvesse de parte do Brasil, fosse através da presidente Dilma Rousseff ou do chanceler Antonio Patriota, um indício de apoio à tarefa que Kofi Annan cumpriu a duras penas.

Tal não ocorreu e dificilmente acontecerá. A não ser que o ex-presidente Lula tome essa iniciativa, na suposição de que isto iria gerar dividendos que pudessem contribuir para a inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.

 

 

Atheniense

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