Crimes praticados na internet aumentam 20% em dois anos em MG

Flavianne não cedeu à chantagem e foi ameaçada de ter imagens veiculadas em sites de prostituição

Uma falsa oferta de emprego por e-mail levou Flavianne Moura Ferreira, de 25 anos, a virar alvo de ameaças e de constrangimento ilegal na internet. Após recusar um convite para fazer um ensaio sensual para uma suposta agência de modelos, a auxiliar de escritório se viu refém da mulher que se apresentava como contratante. “Ela invadiu o meu computador e fez uma montagem com fotos do meu rosto, como se eu fosse uma garota de programa”, diz Flavianne.

Uma amiga dela, Letícia Silva Aragão, de 26, também recebeu o e-mail e passou a ser ameaçada de ter a imagem vinculada à prostituição, caso não fizesse o ensaio sensual ou deixasse de pagar R$10 mil à “agência de modelos”. As jovens são duas das 819 vítimas de delitos cometidos via internet, em 2011, segundo a Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos de Minas Gerais. Em dois anos, as ocorrências aumentaram 20%.

“O crescente número de denúncias se deve, principalmente, à maior quantidade de usuários da internet”, afirma o delegado Pedro Paulo Marques. Até setembro de 2011, havia 78 milhões de internautas com 16 anos ou mais no Brasil, segundo o Instituto Ibope Nielsen. De acordo com um levantamento feito pela Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), o percentual de pessoas conectadas ao universo on-line passou de 27% para 48% entre 2007 e 2011.

O maior acesso dos brasileiros à rede facilita a atuação de quadrilhas de estelionato. O crime representa a motivação de quase a metade do total de ocorrências feitas no ano passado, com 46,7% (303). “A maioria das vítimas fez compras em algum site e não recebeu o produto que, geralmente, é um eletroeletrônico”, cita Pedro Paulo. Neste caso, a pessoa deve fazer um boletim de ocorrência e acionar o Ministério Público Estadual (MPE) para investigar a autenticidade do endereço eletrônico.

O furto mediante fraude é outro crime contra o patrimônio bastante comum no campo cibernético, segundo o delegado. O arquivista Jorge Dias, de 30 anos, foi roubado depois de acessar a conta bancária pela internet. “Quando tirei um extrato, descobri uma transferência de R$ 4 mil”. Somente após fazer um registro na delegacia ele conseguiu ser ressarcido pelo banco. “Viram que a operação foi feita de um IP (endereço na internet) diferente do meu”.

O aumento de delitos deste tipo em Minas também se deve à ilusão dos bandidos de que não serão punidos, diz o advogado especialista em crimes virtuais Alexandre Rodrigues Atheniense. “Os brasileiros acreditam que a tecnologia oferece total anonimato e que podem difamar qualquer um pela internet, porque não haverá punição”. Ele estima que, a cada dez casos, a autoria só não seja descoberta em três.

A delegacia especializada conta com uma equipe de 20 investigadores, incumbidos de apurar denúncias e de vasculhar sites que possam tratar, por exemplo, de prostituição infantil. No caso de Flavianne, a responsável pelas ameaças foi encontrada, mas ainda não está presa. “Quando falei que a polícia já estava atrás dela, a mulher parou de me incomodar”, diz a jovem.

O MPE conta com a Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos desde 2008. Em 2011, o órgão recebeu 595 denúncias. A maioria era referente a estelionato (190) e difamação, calúnia e injúria (60).

Fonte: Hoje em Dia

 

Atheniense

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