Participo, com incontida emoção, do lançamento da obra que condensa valiosos estudos de trinta cultores do Direito.
Agradeço, enternecido, as orações proferidas. Traduzem a amizade que nos congrega nesta noite festiva. A amizade duplica nossas alegrias e divide nossa tristeza.
Após tantas honrosas referências ao meu passado, ficou-me a impressão de que seria, realmente, tudo aquilo que disseram a meu respeito.
Já havendo ingressado na idade provecta, não me impressiono com a perda dos últimos cabelos que me restam; mas, sim, em cultivar a integridade moral e a disposição de servir aos que recorrem a mim, ao meu patrocínio, tendo como norte o pensamento de Winston Churchill:
“Vivemos o que ganhamos, mas marcamos nossa vida pelo que damos”.
Agradecer é a arte de atrair coisas boas.
Daí a minha gratidão aos que contribuíram na divulgação do tema “Advocacia nos Tribunais”. Foi para esta especialidade que optei, ao longo de meio século, convivendo e aprendendo com magistrados e colegas, de quem trago imperecível lembrança, esforçando-me em ser hoje melhor do que fui ontem.
Atravessamos uma era em que a sociedade se rege pelo princípio dos interesses, com o primado da riqueza subalternizando o mundo dos valores.
Inditosamente este quadro, de algum tempo para cá, atingiu a nossa profissão. Há quem considere que a melhor forma de se obter prestígio consista em adotar como pressuposto a conquista do poder econômico.
Procura-se o lucro fácil e rápido, nem sempre justificado; e relega-se ao segundo plano o próprio interesse jurídico das questões.
O advogado, na acepção autêntica da palavra, deverá estar sempre munido de conhecimentos legais, sociais e humanos, que lhe permitam servir bem o cliente e representá-lo junto àquele que irá decidir o seu destino, nos exatos limites da pretensão que lhe cumpre tutelar.
O advogado é o garante da dignidade da profissão. É em cada advogado que se imagina o que é a nossa classe.
No exercício da advocacia não se pode esperar por honrarias e promoções por antiguidade ou merecimento.
A gratidão é moeda escassa, notadamente se o profissional não propiciou ao assistido tudo aquilo que esse imaginava ser merecedor.
Se o juiz se debruça sobre a norma para fixar-lhe a dimensão no bojo da lei, diante das circunstâncias de cada caso, é o advogado, provocando a controvérsia, que fornece ao julgador a substância real do debate.
O Foro e o Tribunal serão sempre arenas de batalhas, enquanto que o ofício do advogado é de contestante e censor. Tribunal onde os advogados desertem ou se sintam ameaçados, será menos um templo do que o túmulo da justiça.
A paciência é a maior das virtudes da advocacia: paciência para escutar o cliente; paciência para enfrentar o adversário; paciência para aguardar a sentença e, sobretudo, paciência para suportar a decisão injusta e adversa, mesmo porque o vencido nunca é convencido.
A reputação que o advogado leva para o fórum com ele voltará para a sua casa. Jamais haverá meia reputação. Ela existirá ou não, da mesma forma que entre a verdade e a mentira não haverá meio termo.
Os prazos judiciais não esperam; o foro não para; a vida nos pretórios, em ritmo acelerado, não cessa um só instante. A nossa profissão empolga, eletriza, nos torna tensos, exaure e esgota.
As atribuições de uma atividade marcada de relâmpagos emocionais, se não prostram o advogado, tornando-o hipertenso ou cardíaco, levam-no à estafa, ao stress, à neurose, encurtando a sua existência…
Com todos esses percalços, a advocacia é vivificante. Depois de conhecê-la é impossível viver longe dela. E, como toda mulher bonita, deverá ser sempre incensada…
A nossa jornada só terá um sentido compensador quando adquirirmos a certeza de que trouxemos ao nosso semelhante a paz e a felicidade, que somente serão alcançadas sob as garantias da lei.
Caros amigos:
A esta altura, não me acanho em afirmar que tornei-me um velho advogado, mas ainda não sou um advogado velho…
Na velhice, a sabedoria desponta quando o absoluto e o eterno penetram na consciência finita e perecível, lançando luz sobre a nossa existência.
Estejam certos, meus colegas, de que a velhice também é vida; é um tipo de vida próprio com seu valor peculiar. E aquele que envelhece de forma adequada será capaz de entender melhor o conjunto da vida.
Na concepção do gaúcho Mário Quintana, a velhice só desponta a partir do dia em que as moças começam a nos tratar com respeito, chamando-nos de “senhor”, e os rapazes sem nenhum…
Esta fala não prescinde de um reconhecimento particular àquelas que organizaram a obra editada. Refiro-me às minhas afilhadas de casamento, Maria Fernanda Pires e Raquel Dias Silveira, que, espontaneamente, se propuseram a difundir o que é a advocacia nos tribunais.
Assim procederam tomadas de ternura por este velho amigo, perenizando o talento herdado dos pais, Ariosvaldo Campos Pires e Jeovah Silveira, meus pranteados colegas.
Sou, por igual, agradecido aos meus filhos Alexandre, Luciana, Denise e Elisa, aos colegas de escritório Manoel e Cristina, pelas carinhosas mensagens, pelo esforço despendido na realização de um livro que retratasse a experiência do cotidiano.
Sou devedor à Livraria Del Rey, na pessoa de seu diretor Arnaldo Oliveira, pela disposição em reunir trabalhos de alto quilate, que despertarão o interesse das novas gerações pela atuação nos tribunais.
Ainda duas palavras de reconhecimento: ao José Anchieta, que falou em nome dos autores, e ao Ricardo Fiúza, representando a Editora Del Rey.
São amigos fraternos, leais e presentes em todas as situações, a quem estarei sempre ligado por uma estima renovada, que não se perderá na bruma do tempo.
Se o transcendental existe e se do outro lado da vida a Justiça Verdadeira aguarda por nós, valho-me das palavras de Evandro Lins e Silva para afiançar-lhes que:
“No Juízo final, hei de ser julgado pelo que fiz e deixei de fazer. Quero, na Corte Celestial, explicar e pedir compreensão para os meus pecados. Como lutei na terra na defesa da liberdade e dos direitos dos outros, lutarei lá para ganhar a minha própria causa, conquistar o Reino do Céu”.
Belo Horizonte, 29 de fevereiro de 2012.
Aristoteles Atheniense.
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