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Durante a tempestade

A esta altura, é licito afirmar que a greve dos caminhoneiros teve de tudo, culminando com a demissão de Pedro Parente, fato que ensejou as mais variadas interpretações, tanto de parte da oposição, quanto do governo a que prestou os melhores serviços.

O seu grande pecado foi o de vincular o preço dos combustíveis a situações diárias do mercado internacional, ao invés de optar por uma política de periodicidade dos reajustes.

Um executivo de reconhecida competência, que realizou excelentes trabalhos de recuperação da empresa que comandou, foi levado a deixar a sua presidência para que Michel Temer ficasse à vontade na formulação de sua política de preços.

Da irracionalidade que grassou naqueles dias turbulentos, participaram tucanos e democratas, entoando um “Fora Pedro Parente”, a exemplo dos senadores Cunha Lima e Ronaldo Caiado, com o mesmo entusiasmo que sustentaram o cabimento do impeachment de Dilma Rousseff.

Assim procederam, esquecidos de que a orientação implementada por Pedro Parente se identificava com a que os seus partidos defenderam na gestão de FHC.

Movimentos golpistas passaram a pregar abertamente a derrubada do governo, intervenção militar, a antecipação ou o cancelamento das eleições de outubro. Visando conter a impetuosidade desses arroubos totalitários, a ministra Cármen Lúcia promoveu a exaltação da democracia, por considerá-la o único instrumento apto a enfrentar as crises, valendo-se do que está previsto na Constituição.

Neste mesmo diapasão, o ex-presidente do STF, ministro Ayres Britto, que sempre se mostrou otimista nos episódios mais preocupantes, acrescentou que “a democracia é tão boa que não tem como bater em retirada por conta própria. Ela se proíbe qualquer alternativa de substituição”.

Do que ocorreu ficou a certeza de que muitos aventureiros saíram da toca, propondo soluções carismáticas, atrelados, exclusivamente, aos seus interesses pessoais.

O movimento que, a princípio, era de uma classe que foi atendida em suas reivindicações, concorreu para que fanfarrões de todos os matizes tentassem se aproveitar da situação, promovendo incitações que colocaram em risco a nossa estabilidade constitucional.

Aristoteles Atheniense

Presidente da Seccional mineira da OAB por dois períodos (1979 a 1983); Secretário Geral do Conselho Federal (1993/1995); Vice-Presidente Nacional da OAB

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