Por Aristoteles Atheniense
Na sua única vinda a Belo Horizonte, o ex-presidente Mário Soares foi recepcionado por expressivas figuras da colônia portuguesa, em evento realizado no Othon Palace.
Convidado a comparecer àquele encontro, na condição de presidente da OAB/MG, com ele troquei impressões sobre o seu país. Impressionou-me o destemor daquele advogado corajoso, que assumiu a defesa da família do general Humberto Delgado, trucidado pela PIDE salazarista, juntamente com uma brasileira, na fronteira com a Espanha.
Na porta do hotel havia um aglomerado organizado por João Pereira da Silva, gerente de João Champalimaud, que inaugurara uma indústria de cimento em Vespasiano. O grupo ostentava cartazes e promovia vaias de repúdio a Soares, pela posição que assumira contra o regime anterior.
Encontrava-me a caminho de Lisboa, quando soube da morte de Mário Soares em 7 do corrente. Também, em 2015, estava na capital lusa quando faleceu sua esposa, Maria Barroso.
Em 1974, com a eclosão da “Revolução dos Cravos”, Mário Soares retornou a Portugal, vindo a tornar-se Primeiro-Ministro (1976 /1978 – 1983 / 1985) e, mais tarde, Presidente da República (1985) em dois mandatos.
Segundo Soares, “só é vencido quem desiste de lutar”. Este foi o seu lema, tornando-se a mais importante figura da política de seu país, equiparando-se a socialistas do porte de Mitterrand, Willy Brandt, Olof Palme, Harold Wilson.
O ex-presidente espanhol, Felipe González, deixou consignado no livro de condolências: “Soares vai ser sempre uma referência não só pelo seu pensamento político, mas por sua coragem, por sua paixão pela liberdade e pela justiça social”.
Pela segunda vez em dois dias, presenciei um carro de cavalos brancos desfilando pelas ruas de Lisboa com os restos mortais do político. O momento mais emotivo foi quando passou diante da sede do partido, onde uma multidão lançou flores vermelhas e amarelas sobre o féretro.
O carro, que partiu do Mosteiro dos Jerônimos, onde se celebrou o funeral, dirigiu-se ao Cemitério dos Prazeres. Mário Soares foi sepultado no nicho 3820, o mesmo em que se encontra a sua companheira Maria de Jesus Barroso, que gostava de rosas amarelas.
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