Artigo de Aristoteles Atheniense publicado no Informativo IAMG
Relembro com saudade os movimentos de que participei na minha fase estudantil, associando-me às manifestações que me pareceram legítimas e oportunas.
Na manhã de 24 de agosto de 1954, aluno do curso clássico do Colégio Marconi, fui surpreendido com o infausto suicídio do presidente Getúlio Vargas.
Embora combatesse muitos de seus acólitos, desloquei-me à av. Afonso Pena, incorporando-me a um grupo de operários da mina de Morro Velho, em Nova Lima, sob o comando do deputado Valdomiro Lobo. Desfraldando a bandeira brasileira, esbanjamos a nossa revolta pela perseguição ao grande líder trabalhista, que sucumbiu em torturante crise política.
Mais tarde, já advogado, incorporei-me ao movimento das “Diretas Já”, em prol do restabelecimento do Estado de Direito. Sempre fui acompanhado pela minha jovem esposa Elizabeth nas passeatas que fizemos, agregados a uma legião de cidadãos esperançosos, empenhados na queda do regime militar.
No dia 25 de abril de 1984, data em que foi votada a emenda Dante de Oliveira, cuja aprovação importava no retorno do país à legalidade, o Congresso rejeitou a proposta.
Encontrava-me em Ouro Preto, comemorando 20 anos de casado, aguardando o desfecho da votação. O seu malogro deprimiu os brasileiros, esperançosos no restabelecimento da democracia, que lhes fora conspurcada pelos militares.
Naquele episódio, pontificaram homens da estatura moral de Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Mario Covas, Leonel Brizola e tantos outros.
Em setembro de 1992, então secretário nacional da OAB, marchei na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, sob a orientação de Evandro Lins, Barbosa Lima Sobrinho e Marcelo Lavernère (então presidente de nossa entidade). Levamos ao Congresso o pedido de “impeachment” do presidente Fernando Collor.
Foi um espetáculo inesquecível, que contou com a adesão de artistas, operários, líderes sindicais. Fomos aplaudidos freneticamente por todos aqueles que não suportavam a permanência de Collor e seus sequazes no comando do país. Exigimos a sua renúncia, em prol do ressurgimento de uma nação onde não prosperassem métodos inescrupulosos, implantados em sua gestão, com a condescendência de parlamentares, que desfrutavam das sinecuras de seu governo.
Com as recentes manifestações iniciadas no mês de junho, deflagradas pelos que defendem os mesmos princípios que sustentei em minha juventude, sinto-me estimulado a retornar às ruas.
Aquelas passeatas cívicas despertaram na comunidade o interesse em reaver tudo quanto lhe foi surrupiado pelos que se aboletam no Poder, traindo a confiança popular.
Revoltamo-nos contra aquilo que, a princípio, era praticado às escondidas; mas, com o tempo, passou a ser feito às claras, sem o menor constrangimento.
Assim, quando a corrupção converte-se em regra de ação de um grupo ou mesmo de um partido, já não poderemos mais questioná-la na sua origem ou tomá-la como prática individual. Trata-se de um procedimento que, embora horrendo e vil, com o passar dos dias foi transformado em prática corriqueira.
A história de um povo, conforme lembrou Thomas Carlyle, é apenas a biografia dos seus grandes homens. Ou seja, daqueles que se esforçaram em tornar o dia de hoje melhor do que o de ontem.
Há, em todo cidadão, um encargo latente em não transigir com a canalhice, não se omitindo e nem se escondendo nas horas em que a República corre o risco de ser entregue a salteadores prestigiados, inclusive com assento no Congresso.
Enquanto tivermos belicosos da estirpe daqueles a que se referiu o notável historiador Carlyle, os advogados não poderão deixar de compartilhar desses movimentos, rebelando-se contra o decepcionante quadro político atual, inspirados na atuação corajosa de seus antecessores.
Deveremos ter em Sobral Pinto a nossa referência maior.
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