Vivemos uma fase de grande expectativa em relação à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016. Em todas as áreas há quem pretenda obter elevados lucros, sem pensar no que virá depois.
Tão logo se anunciou a realização daqueles certames, o nosso governo foi alertado da necessidade da criação de uma Comissão de Inquérito no Congresso, para evitar o superfaturamento e o desvio de meios por parte dos escolhidos para concretizar aqueles eventos.
A Grécia realizou suas Olimpíadas em 2004. decorridos, até agora, sete anos, não existe ainda um consenso em relação ao verdadeiro valor gasto nos preparativos de Atenas e do país para aquelas disputas.
O então ministro das Finanças da Grécia, George Alogoskoufis, anunciou que o valor despendido foi de US$ 11,9 bilhões. Cinco anos após, outra autoridade local divulgou que o custo foi superior a US$ 17 bilhões, como aliás noticiado pelo jornal londrino “The Times”. Ainda hoje há quem sustente que os gregos gastaram cerca de US$ 30 bilhões com aquele acontecimento.
Na crise atual em que vive a nação helênica é comum surgir quem atribua às Olimpíadas de 2004 uma das causas fundamentais para a queda que aflige a população.Quando da construção do novo metrô de Atenas, houve atraso das obras, obrigando a realização de gastos imprevistos para que pudessem terminá-las dentro do prazo necessário. Fato grave foi divulgado pela revista alemã “Der Spiegel” de que a operadora das ferrovias daquele país, Deustche Bahn, subornara o governo para ganhar a concorrência do contrato da construção do metrô de Atenas.
Nos últimos meses, o primeiro-ministro da Grégia, George Papandreau, após colocar o seu cargo à disposição do Parlamento, conseguiu implantar uma medida de austeridade, cortando salários, fundos de aposentadoria, benefícios sociais, além de despedir mais de 200 mil funcionários. Chegou mesmo a firmar: “ou mudamos ou naufragamos todos juntos!”.
Ainda que não seja razoável estabelecer uma comparação entre o Brasil e Grécia, o acontecido naquela nação há de nos servir de exemplo. Não que torne-se necessário renunciar a oportunidade ímpar da realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Longe disso. Mas, a tragédia grega há de nos servir de exemplo. Basta assinalar que, na maioria das cidades sedes, as obras não estarão prontas no tempo inicialmente previsto.
Diante dos sucessivos escândalos que marcaram os Ministérios do Turismo e Transporte, paira uma razoável expectativa quanto aos recursos destinados àquelas pastas, que estão intimamente ligadas aos eventos programados.
Seria injusto afirmar que foram as Olimpíadas de Atenas que levaram a Grécia à situação calamitosa que no momento atravessa. Mais do que o dispêndio havido, independentemente de seu valor, o que se sabe é que grassou naquele país uma corrupção deslavada, que, certamente encontrou nas Olimpíadas um campo fértil para o seu avanço.
Torna-se indispensável que o Tribunal de Contas, a Controladoria da União e os demais órgãos de fiscalização existentes estejam de alerta quanto ao que está sendo feito, não se intimidando com as críticas à tarefa que exercem.
No governo anterior, o presidente Lula queixou-se seguidamente da atuação do Tribunal de Contas, que estaria emperrando a administração pública.
Queira Deus que esta resistência não ressurja, de forma que não venhamos a sofrer as mesmas inquietações de que a Grécia padece atualmente.
ARISTOTELES Dutra de Araújo ATHENIENSE
Advogado. Conselheiro Nato da OAB
aristoteles@atheniense.com.br | @aatheniense | www.direitoepoder.com.br
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