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O preço da reforma

Ao logo da campanha eleitoral, o candidato Jair Bolsonaro prometeu alterar a forma tradicional de fazer política, não se submetendo às imposições dos partidos e de seus mentores, voltando-se, exclusivamente, para os interesses maiores do País.

Nos dias que se seguiram à sua posse, optou por entender-se com frentes parlamentares, o que o livraria de entendimentos com as facções que o apoiaram na sua caminhada ao Palácio do Planalto.

Não tardou muito para que constatasse ser inviável o processo adotado na escolha do ministério, em face das medidas prioritárias que pretendia implantar, cujo êxito ficará na dependência dos interesses dos 28 partidos existentes no Congresso.

A disposição do presidente em levar pessoalmente ao Senado e à Câmara dos Deputados a proposta de reforma da Previdência, revela a importância que esta terá no sucesso de seu governo. Conforme ele próprio reconheceu, quando deputado votara, reiteradamente, contra propostas de teor semelhante ao projeto produzido pelo ministro Paulo Guedes e seus assessores.

O questionado estudo não foi recebido com entusiasmo pelos parlamentares, sendo certo que, mesmo na bancada governista, há quem considere ter chegado a hora de um acerto de contas com o Planalto. Isto significa que ainda subsiste o sistema do “toma lá dá cá”, ainda que com uma nova feição.

Segundo foi anunciado, o governo se propõe a acelerar a liberação de emendas parlamentares, atendendo às indicações políticas para os cargos do segundo e terceiro escalões. Esta pretensão foi levada a Bolsonaro pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia.

Os portadores da mensagem foram incisivos quanto à disposição do DEM em apoiar a reforma da Previdência, desde que o partido tenha condições de negociá-la com deputados e senadores.

Conforme ficou acertado, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, serão responsáveis pela triagem a ser feita entre os nomes indicados pelos parlamentares. Além dessa vantagem, que importará em prestígio pessoal, cada congressista terá uma recompensa em dinheiro, não inferior a R$ 3 milhões.

A indicação ficará na dependência de que o escolhido seja técnico, sem pendência na Justiça, conte com aval da Controladoria-Geral da União (CGU), além da aprovação do ministro da pasta a que estiver subordinado.

Nos últimos dias, a cobrança pela partilha de cargos despertou maior interesse, compreendendo exigências das bancadas, a exemplo da ruralista, que reclama a manutenção de subsídios que o ministro Paulo guedes pretende extinguir.

Para um partido médio está previsto, para cada deputado em primeira legislação, R$ 7,5 milhões em obras e repasses federais. A cota dos reeleitos será de R$10 milhões. Já o centrão, reivindica que o governo ainda crie uma cota extra para cada deputado.

No orçamento aprovado no ano passado, ficou reservada a verba de R$15 milhões a cada parlamentar em emendas individuais. Quanto aos recém-eleitos, teriam que esperar até 2020 para que pudessem receber verbas de seu interesse eleitoral.

Diante desse quadro, forçoso é reconhecer que a reforma da Previdência, tomada como a mais importante conquista do novo governo, terá um alto preço, cujo pagamento, em última análise, será custeado pelo povo brasileiro.

Aristoteles Atheniense

Presidente da Seccional mineira da OAB por dois períodos (1979 a 1983); Secretário Geral do Conselho Federal (1993/1995); Vice-Presidente Nacional da OAB

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