Por Aristoteles Atheniense
A declaração do Papa Francisco de que “a corrupção é suja” e “uma sociedade corrupta é uma porcaria”, deve ser avaliada tanto em relação ao local onde foi feita, como em face do que acontece na maioria das nações.
O seu pronunciamento ocorreu no norte de Nápoles, numa região tradicionalmente vinculada à máfia Camorra. Os que compareceram à benção papal foram advertidos a enfrentar corajosamente os mafiosos, inobstante todo poder de corrupção que conservam.
Daí haver o Papa os incentivado a prosseguir, “… limpando a própria alma, a alma da cidade e da sociedade para que não exista esse cheiro putrefato que tem a corrupção”.
Nápoles, cidade sulina da Itália, ao longo dos anos enfrenta desafios de toda natureza, com sua população pobre exposta ao sofrimento permanente, amedrontada pelos corruptos que procuram captar a juventude à prática criminosa adotada na formação de suas fortunas.
A manifestação feita na localidade de Scampia, em linguagem candente e que repercutiu em todo o mundo, serviu para demonstrar, mais uma vez, que a igreja católica não está disposta a acobertar escândalos, mormente quando contam com a omissão de seus pastores.
O Pontífice foi incisivo ao enfatizar que o dia a dia está repleto de dificuldades e de “duras provas”. Nesta última expressão ficou implícita a corrupção, como sendo uma das tentações a que todo homem está sujeito, pelas vantagens materiais que oferece, agravada pela impunidade ante os rigores da lei.
Francisco, desde que ocupou a cadeira de Pedro, não tem perdido a oportunidade de dizer o que lhe pareça oportuno, mesmo que o faça em termos que não sejam próprios à solenidade da posição que ocupa.
Certo é, porém, que o mundo carecia há muito de quem ousasse dizer a verdade àqueles que sempre se mantiveram afastados dela. Daí o êxito que vem obtendo em suas passagens pelos quatro cantos do mundo, não se limitando a censurar os governantes, mas ressaltando que essas verdades devam ser ditas e cumpridas, inclusive pela igreja de que é chefe.
Ao qualificar como anticristão aquele que se deixa envolver por ações maléficas, enveredando pelo caminho do mal, o Papa não diferenciou ricos e pobres, governantes e governados, igualando-os na obrigação de preservar os princípios éticos, que, na maioria das vezes, só existem nas manifestações e textos oficiais.
Lamenta-se, apenas, que ao considerar que “o corrupto fede” não tenha feito esta advertência quando de sua visita ao Brasil, país em que teve marcante passagem, onde o odor putrefato vem atingindo a índices imprevisíveis.
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