Artigo de Aristoteles Atheniense publicado na Revista Matéria Prima – Junho 2013
Em 1964, chegou a Belo Horizonte o “Gran Circo Mexicano”, contando com artistas, comediantes e animais, que constituíam a atração de seus espetáculos.
Foi armado na Lagoinha, próximo ao Conjunto IAPI. Numa tarde, recebi em meu escritório, no edifício Joaquim de Paula, a trapezista Sílvia Rodriguez Onofre, levada pelo advogado Chaquibe Hassan Souki, que fora despedida pelos donos, os irmãos Stevanovich, com quem se desentendera.
Após relatar a desavença que tivera com os seus patrões, manifestou-me seu receio de não receber a indenização trabalhista que lhe era devida, caso o circo fosse embora, o que estava previsto para os próximos dias. Valendo-me de uma lei que protegia os empregados teatrais que corressem , fisco de ser lesados em seus direitos, ingressei com uma medida cautelar numa das Juntas Trabalhistas, que funcionavam num prédio da ma Tupinambás, expondo os motivos que me levaram a pleitear uma garantia material para a minha cliente.
Na peça que elaborei, pedi que fosse concedido a reclamante algum bem suficiente para prevenir o prejuízo iminente a que estava sujeita. O valor da causa era de dois milhões de cruzeiros. O juiz indagou-me se ficaria satisfeito com a apreensão de um dos animais da empresa. Sem poder fazer opções, respondi- lhe afirmativamente. Sugeri- lhe, então, que me concedesse um animal valioso, cuja perda pudesse contribuir para um acordo futuro, assim que fosse apreendido.
De imediato, foi expedido mandado de apreensão de uma elefanta, chamada “Lissa”, que ficaria retida na Gameleira, enquanto durasse a pendência, além de uma lona de circo. A permanência do paquiderme, naquele local, correria por conta da minha constituinte, importando em alimentação diária, que custaria 20 mil cruzeiros para sustentar a elefanta, que poderia correr risco de vida.
Como a trapezista não tinha recursos para arcar com essa despesa, assumi, junto com o meu colega Chaquibe, a obrigação de custear diariamente a manutenção do animal.
No último dia de permanência da Silvia na empresa, um palhaço de nome Aristides Batista Ferreira, conhecido como “Puxa Puxa”, promoveu uma serenata de despedida para ela. O que foi considerado pelos donos do circo como uma provocação, pelo fato de a trapezista já haver ingressado em juizo, privando-os da exibição da elefanta “Lissa”.
No dia seguinte, “Puxa Puxa” foi dispensado. Veio logo à nossa procura, para que adotássemos providência imediata em seu favor.
De pronto, articulei novo pedido, no valor de um milhão de cruzeiros. Consegui que a ação fosse distribuída ao mesmo juiz que deferira a pretensão anterior. O magistrado, já conhecendo os antecedentes do caso, indagou-me se, por acaso, ainda havia outro animal em condições de ser recolhido.
Como já havia sido avisado previamente pelo meu cliente da existência de outra elefanta, conhecida como “Mary”, a sua apreensão foi determinada, tal como ocorrera no processo anterior. Sucede que, com o passar dos dias, o custo de manutenção dos animais desestimulou os advogados dos artistas. Passamos a cogitar de outra garantia, que não aquela de que dispunham. Embora “Puxa Puxa” continuasse interessado na manutenção de “Mary”, certo é que tanto ele, como seus procuradores, careciam de recursos para mantê-la.
A apreensão das duas elefantas teve repercussão nacional. A revista “Visão”, na sua página “Mosaico”, que registrava fatos pitorescos, contou a desdita dos artistas e de seus mandatários, concluindo, com o refrão: “Se um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais…”.Como a situação se tornou insustentável, fomos a Rio Piracicaba, para onde o circo se transferira.
Tentamos permutar os animais por um carro Aero Willys, pertencente aos irmãos Stevanovich. Temendo que o negócio não se concretizasse, sugerimos aos devedores que nos destinassem a renda de espetáculos que seriam realizados no fim de semana. Esta proposta não vingou, pois, na hora da apresentação, desabou um temporal no Vale do Aço, que afugentou os espectadores.
Aceitamos, então, a contragosto, o Aero Willys, que levaríamos para Belo Horizonte, onde pretendíamos negociá-lo numa agência de veículos.
A tornar ainda mais angustiosa a nossa situação e de nossos clientes, o automóvel derrapou na estrada, ficando imprestável. Sem nada recebermos deles, a trapezista e o palhaço ainda exigiram uma compensação, alegando que não foram beneficiados pela nossa atuação.
Foi a experiência mais original que tive no início de minha profissão. Contava com apenas cinco anos de formado, recém-casado, sem haver conseguido uma clientela satisfatória. Apenas ganhei notoriedade, como sendo o advogado que penhorou dois elefantes, que desfilaram pela Praça Sete, chamando a atenção do público. Os que passavam se assustavam com o desfile que interrompeu o trânsito, sob a orientação de dois jovens profissionais que, ao final,nada receberam.
Nem mesmo o agradecimento dos clientes.. .
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