Para onde vamos?
Por Aristoteles Atheniense
O recente pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, simulando uma adesão à divergência popular que tomou conta das ruas, só mereceu aplausos por parte daqueles que não têm boa memória. O novo rumo que imprimiu à sua manifestação serviu para explicar a desconfiança com que foi recebido o encontro que teve com governadores e prefeitos das capitais no dia anterior.
Num Congresso, onde há dezenas de projetos relevantes dependendo do assentimento do Executivo e dos presidentes Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, as propostas anunciadas são recebidas com descrença, sem que haja uma explicação razoável para o atraso com que vieram.
Assim, o que está sendo proposto já poderia ter se tornado realidade desde a época em que a atual presidente fora ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil, em substituição a Antonio Palocci, e desde quando assumiu o comando do Brasil.
Somente a queda de sua popularidade, com a desaprovação estridente que se alastrou por toda a Federação, poderia explicar a presença de Dilma na televisão. Leu aquilo que lhe foi ditado pelo seu marqueteiro João Santana, aparentando haver feito as pazes com a verdade. Cumpria-lhe, sim, externar a sua “mea culpa”, como fazem aqueles que têm pudor cívico e respeito aos que se deixaram levar pelas promessas eleitorais, que já estão sendo renovadas para 2014.
A esta altura, não é segredo para ninguém que, tão logo caia da gangorra em que balança, o seu mentor político assumirá o posto como regra três. Na verdade, Lula nunca deixou de ser o maior interessado na frustração de sua pupila. Pois, havendo desencanto quanto ao desempenho de Dilma, maior será o interesse dos companheiros pelo seu retorno.
Conforme salientou o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, indagado sobre o que nos aguarda: “O país já estava com um quadro de crescimento desanimador, inflação deteriorada, déficit em conta corrente. Agora se acrescenta um elemento de incerteza política. Isso inevitavelmente vai pesar na sua avaliação externa”.
Atualmente, as mágicas da atual presidente não se resumirão apenas na elevação dos juros para conter a inflação. Estão sendo pedidas as cabeças de Guido Mantega e Renan Calheiros, ainda que com atraso. A paciência do povo tem limite, por mais condescendente que possa ser com seus algozes.
Na sua fala televisiva, cometeu o desplante de afirmar que os gastos contraídos com a Copa e a Olimpíada correrão por conta das empresas e dos governos estaduais.
Na realidade, dos R$ 7,03 bilhões, R$ 612 milhões provieram das empresas particulares, conforme foi divulgado pela “Veja” da última semana. Mais de 80% foi despendido com os impostos pagos pelos cidadãos, ao contrário do que afirmou o ex-ministro de Esportes, Orlando Silva: “Não haverá um real federal para estádios”.
Contemplando o noticiário da televisão e lendo as matérias dos jornais, causa estranheza a ausência do conselheiro-mor do governo, senador José Sarney, evitando comprometer-se com o desgaste de sua monitorada. Quem conseguir explicar o seu silêncio e de Lula, merecerá aplausos, pois, ninguém entende que os dois detentores de tamanho prestígio hajam desaparecido da noite para o dia. Se não for com medo do povo, será por conveniência.
Diante desse quadro preocupante, vale repetir a indagação bíblica: “Quo vadis, Domine?” Para onde estamos indo?