04/04/2018, por Aristoteles Atheniense 

Sete anos de agonia

Em 15 de março de 2011, sob a influência da Primavera Árabe, milhares de sírios deflagraram o movimento que agora completa sete anos. O berço da insurreição foi Deraa, no sudoeste do país, onde estudantes adolescentes picharam o muro de sua escola com a frase: “Agora é a sua vez doutor”, referindo-se a Bashar al-Assad, médico oftalmologista que estudou na Inglaterra.

Em represália a este movimento, os jovens foram presos, levando choques elétricos e queimaduras no corpo. De nada valeram as súplicas de seus pais para que fossem libertados, tendo o governo recebido com ironia suas solicitações: “Esqueçam seus filhos. Se realmente querem filhos, é melhor fazerem outros. Se não sabem como tê-los, podemos ensinar”.

O flagelo conta hoje com 500 mil mortos e 6 milhões de sírios refugiados. O que, a princípio, parecia ser de curta duração, tornou-se uma guerra financiada por potências estrangeiras.

De um lado, Assad apoiado pela Rússia e Irã; de outro, os Estados Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Kuwait e Turquia, sustentando a oposição.

Em sua obstinação em manter-se no poder, Bashar al-Assad cercou cidades para que seus habitantes se rendessem ou morressem de fome, além de lançar bombas sobre escolas e hospitais, fazendo uso de armas químicas.

A partir do ingresso da Rússia na guerra, em 2015, as forças do governo passaram a obter mais vitórias, bombardeando focos rebeldes. A segunda cidade do país, Aleppo, caiu em 2012, premida pela falta de comida e alimentos para a população.

A esta altura, o presidente sírio controla 60% do território do seu país, sem que se possa afirmar que venceu a guerra, à custa do sacrifício imposto a metade da população. Mas, as áreas ricas em petróleo ainda não se encontram sob seu controle.

A carnificina assumiu maiores proporções em Ghouta, onde Israel empenha-se em deter a atuação do Irã e do grupo radical libanês Hezbollah.

Com a oposição fragmentada, composta tanto de grupos extremistas, como democráticos, que arrostam o poder de Damasco divergindo entre as suas correntes, torna-se imprevisível prever até quando subsistirá este flagelo.

O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão de Investigação da ONU sobre a Síria, indagado quanto à duração desta guerra, sem que se possa avaliar até quando irá perdurar, concluiu que isto se deve, também, ao fato de que os países apoiadores dos combatentes não têm vítimas na guerra. As vítimas são somente os sírios, embora os revoltosos estejam contribuindo para que a calamidade prossiga, atendendo aos interesses de nações poderosas que perseguem a queda do presidente sírio.