É fato inconteste que a agonia venezuelana somente cessará quando o país livrar-se da ruína social e econômica implantada pelo chavismo. Resta saber quando e qual seria a melhor forma de atingir este resultado. Nicolás Maduro, mesmo sem legitimidade para o exercício de um novo mandato, obtido mediante fraudes e restrições, ainda conta com a lealdade do judiciário e apoio da cúpula das Forças Armadas.
Na sequência deste raciocínio, cabe indagar se a atitude do governo Bolsonaro em reconhecer Juan Guaidó como novo presidente foi oportuna e coerente com a tradição política do Itamaraty.
É certo que a apressada adesão à queda de Maduro, emitida no dia seguinte à chegada de Bolsonaro aos Alpes suíços, atendeu a dois propósitos: filiar-se à orientação de Donald Trump, repassada pelo seu conselheiro John Bolton; atender às pretensões de opositores que estiveram recentemente no Brasil, mantendo estreito contato com o Planalto, inclusive com um dos filhos do presidente.
Na avaliação do diplomata e ex-ministro, embaixador Rubens Ricupero, essa adesão, além de precipitada, não atende aos interesses nacionais, ante o apoio já assegurado pela Rússia e China ao mandatário questionado.
A investidura de Guaidó, 35, mesmo com aval de líderes oposicionistas, é insuficiente para conferir-lhe a estabilidade de que carece na indicação de embaixadores, como já vem fazendo. A Venezuela conta com 2.000 generais (nos Estados Unidos são 900 e no Brasil 300) recebendo polpudos soldos. Maduro chegou a nomear o “general do arroz e feijão” e o “general da farinha de trigo” para distribuição de alimentos.
Não é de hoje que Rússia e China formaram parceria para sustentar o chavismo. A Rosneft – equivalente à nossa Petrobras – participa em 40% da produção petrolífera, com direito a retirar 170.000 barris diários no país em conflito. Com a ida de Maduro a Moscou, voltou a ser discutida a instalação de uma base aérea russa na costa da Venezuela. Se o Kremlin desfizer a relação mantida com a nação caribenha, sofrerá prejuízo de milhões de dólares, com reflexo em sua política externa.
Quanto à China, o seu interesse em preservar a situação de Maduro é ainda mais explicável. Pequim é o maior credor de Caracas: US$ 23 bilhões.
Se o tema for submetido, neste sábado, 26, ao Conselho de Segurança da ONU, tanto Putin como Xi Jinping farão uso do poder de veto de que dispõem naquele órgão.
Dessas considerações emerge a certeza de que a temerária decisão do presidente Bolsonaro, influenciado pelo chanceler Ernesto Araújo, importou em risco de consequências imprevisíveis. Como se já não bastassem os nossos problemas internos, igualmente preocupantes.
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