15/04/2012, por Atheniense Advogados

A perda de um líder autêntico

A morte de Ahmed Ben Bella, aos 96 anos, na cidade de Argel, ainda não foi alvo de merecido destaque se considerado o relevante papel que desempenhou na guerra de libertação da Argélia, que resultou na independência conseguida em 1962.

Ben Bella teve atuação decisiva no ousado processo libertador que contou com a colaboração de líderes nacionalistas argelinos, vindos do Egito, que se encontravam escondidos na Suíça, onde criaram o movimento Frente da Libertação Nacional.

Desde então, o falecido tornou-se um símbolo pan-arabismo, até que veio a ser derrubado pelo seu ministro da Defesa e antigo aliado, Houari Boumédiène, que assumiu a presidência num golpe de Estado que importou no exílio de Ben Bella por dez anos, só retornando a Argélia em 1990.

O chamado “ícone da independência” era filho de camponeses pobres e foi criado na fronteira da Argélia com Marrocos, permanecendo detido nas prisões francesas em razão de sua militância obstinada.

Fundou, mais tarde, um partido que obteve apenas dois por cento dos votos e que foi banido pelos militares que assumiram o governo. A despeito da perseguição que lhe foi imposta e das críticas que fizera aos seus sucessores, Ben Bella tornou-se um dos seis líderes históricos na sangrenta guerra colonial que resultou em milhares de mortes.

Ben Bella passou vinte e três anos de sua vida em prisões francesas e argelinas, em razão de seu apoio ao movimento dos Não-Alinhados, atividade que desempenhou ao lado de Fidel Castro, Jawaharlal Nehru e Gamal Abdel Nasser.

Em sua resistência ao colonialismo francês sofreu dois atentados, um no Cairo e outro em Trípoli, e, enquanto esteve no governo (entre 1963/1965), implementou a reforma agrária, empenhando-se em construir uma Argélia inspirada na economia socialista.

A coragem demonstrada em prol da independência custou-lhe graves restrições, inclusive por parte daqueles ao lado de quem lutara no passado, vindo a ser o primeiro civil a governar a Argélia.

O atual presidente Abdelaziz Bouteflika, que juntamente com Boumédiènne ajudou a derrubá-lo, emitiu nota lamentando a morte do antigo companheiro.

Reconheceu, então, que o futuro da Argélia, nos cinquenta anos subsequentes à sua independência, teria sido diverso se não fosse a atuação destemida deste líder consagrado, falecido no dia 11 do corrente, ao lado da família, no Hospital Militar de Ain Naadja.

Desde 2007, presidia o Grupo de Sábios da União Africana, inobstante a sua idade avançada, devido ao prestígio adquirido na luta intimorata contra o governo francês.

A morte de Ben Bella ocorreu no momento em que os argelinos comemoram os cinquenta anos da emancipação obtida à custa de sangue e sacrifício.

Grassa no país uma decepção contra a situação atual, que não corresponde aos anseios que levaram os seus líderes, como o próprio Ben Bella, a atingir o autogoverno, repelindo os privilégios de que a França desfrutara ao longo de tantos anos de domínio e opressão.