01/03/2012, por Atheniense Advogados

Discurso do Dr. Aristoteles Atheniense proferido no lançamento do livro “Advocacia nos Tribunais”

Participo, com incontida emoção, do lançamento da obra que condensa valiosos estudos de trinta cultores do Direito.

Agradeço, enternecido, as orações proferidas. Traduzem a amizade que nos congrega nesta noite festiva. A amizade duplica nossas alegrias e divide nossa tristeza.

Após tantas honrosas referências ao meu passado, ficou-me a impressão de que seria, realmente, tudo aquilo que disseram a meu respeito.

Já havendo ingressado na idade provecta, não me impressiono com a perda dos últimos cabelos que me restam; mas, sim, em cultivar a integridade moral e a disposição de servir aos que recorrem a mim, ao meu patrocínio, tendo como norte o pensamento de Winston Churchill:

“Vivemos o que ganhamos, mas marcamos nossa vida pelo que damos”.


Agradecer é a arte de atrair coisas boas.

Daí a minha gratidão aos que contribuíram na divulgação do tema “Advocacia nos Tribunais”. Foi para esta especialidade que optei, ao longo de meio século, convivendo e aprendendo com magistrados e colegas, de quem trago imperecível lembrança, esforçando-me em ser hoje melhor do que fui ontem.

Atravessamos uma era em que a sociedade se rege pelo princípio dos interesses, com o primado da riqueza subalternizando o mundo dos valores.

Inditosamente este quadro, de algum tempo para cá, atingiu a nossa profissão. Há quem considere que a melhor forma de se obter prestígio consista em adotar como pressuposto a conquista do poder econômico.

Procura-se o lucro fácil e rápido, nem sempre justificado; e relega-se ao segundo plano o próprio interesse jurídico das questões.

O advogado, na acepção autêntica da palavra, deverá estar sempre munido de conhecimentos legais, sociais e humanos, que lhe permitam servir bem o cliente e representá-lo junto àquele que irá decidir o seu destino, nos exatos limites da pretensão que lhe cumpre tutelar.

O advogado é o garante da dignidade da profissão. É em cada advogado que se imagina o que é a nossa classe.

No exercício da advocacia não se pode esperar por honrarias e promoções por antiguidade ou merecimento.

A gratidão é moeda escassa, notadamente se o profissional não propiciou ao assistido tudo aquilo que esse imaginava ser merecedor.

Se o juiz se debruça sobre a norma para fixar-lhe a dimensão no bojo da lei, diante das circunstâncias de cada caso, é o advogado, provocando a controvérsia, que fornece ao julgador a substância real do debate.

O Foro e o Tribunal serão sempre arenas de batalhas, enquanto que o ofício do advogado é de contestante e censor. Tribunal onde os advogados desertem ou se sintam ameaçados, será menos um templo do que o túmulo da justiça.

A paciência é a maior das virtudes da advocacia: paciência para escutar o cliente; paciência para enfrentar o adversário; paciência para aguardar a sentença e, sobretudo, paciência para suportar a decisão injusta e adversa, mesmo porque o vencido nunca é convencido.

A reputação que o advogado leva para o fórum com ele voltará para a sua casa. Jamais haverá meia reputação. Ela existirá ou não, da mesma forma que entre a verdade e a mentira não haverá meio termo.

Os prazos judiciais não esperam; o foro não para; a vida nos pretórios, em ritmo acelerado, não cessa um só instante. A nossa profissão empolga, eletriza, nos torna tensos, exaure e esgota.

As atribuições de uma atividade marcada de relâmpagos emocionais, se não prostram o advogado, tornando-o hipertenso ou cardíaco, levam-no à estafa, ao stress, à neurose, encurtando a sua existência…

Com todos esses percalços, a advocacia é vivificante. Depois de conhecê-la é impossível viver longe dela. E, como toda mulher bonita, deverá ser sempre incensada…

A nossa jornada só terá um sentido compensador quando adquirirmos a certeza de que trouxemos ao nosso semelhante a paz e a felicidade, que somente serão alcançadas sob as garantias da lei.

Caros amigos:

A esta altura, não me acanho em afirmar que tornei-me um velho advogado, mas ainda não sou um advogado velho…

Na velhice, a sabedoria desponta quando o absoluto e o eterno penetram na consciência finita e perecível, lançando luz sobre a nossa existência.

Estejam certos, meus colegas, de que a velhice também é vida; é um tipo de vida próprio com seu valor peculiar. E aquele que envelhece de forma adequada será capaz de entender melhor o conjunto da vida.

Na concepção do gaúcho Mário Quintana, a velhice só desponta a partir do dia em que as moças começam a nos tratar com respeito, chamando-nos de “senhor”,  e os rapazes sem nenhum…

Esta fala não prescinde de um reconhecimento particular àquelas que organizaram a obra editada. Refiro-me às minhas afilhadas de casamento, Maria Fernanda Pires e Raquel Dias Silveira, que, espontaneamente, se propuseram a difundir o que é a advocacia nos tribunais.

Assim procederam tomadas de ternura por este velho amigo, perenizando o talento herdado dos pais, Ariosvaldo Campos Pires e Jeovah Silveira, meus pranteados colegas.

Sou, por igual, agradecido aos meus filhos Alexandre, Luciana, Denise e Elisa, aos colegas de escritório Manoel e Cristina, pelas carinhosas mensagens, pelo esforço despendido na realização de um livro que retratasse a experiência do cotidiano.

Sou devedor à Livraria Del Rey, na pessoa de seu diretor Arnaldo Oliveira, pela disposição em reunir trabalhos de alto quilate, que despertarão o interesse das novas gerações pela atuação nos tribunais.

Ainda duas palavras de reconhecimento: ao José Anchieta, que falou em nome dos autores, e ao Ricardo Fiúza, representando a Editora Del Rey.

São amigos fraternos, leais e presentes em todas as situações, a quem estarei sempre ligado por uma estima renovada, que não se perderá na bruma do tempo.

Se o transcendental existe e se do outro lado da vida a Justiça Verdadeira aguarda por nós, valho-me das palavras de Evandro Lins e Silva para afiançar-lhes que:

“No Juízo final, hei de ser julgado pelo que fiz e deixei de fazer. Quero, na Corte Celestial, explicar e pedir compreensão para os meus pecados. Como lutei na terra na defesa da liberdade e dos direitos dos outros, lutarei lá para ganhar a minha própria causa, conquistar o Reino do Céu”.

Belo Horizonte, 29 de fevereiro de 2012.

Aristoteles Atheniense.