18/07/2012, por Atheniense Advogados

O isolamento de Mahmoud Ahamadinejad

Recente manifestação da ativista Mina Ahadi, em nome do Comitê Internacional Contra o Apedrejamento de Mulheres, serviu para demonstrar que a posição do Brasil em relação ao Irã corre o risco de sofrer alterações.

A campanha encetada contra a execução de Sakineh Ashtiani, que fora condenada por adultério, contou com o apoio da presidente Dilma Rousseff antes mesmo de sua posse. Assim, dissentindo de seu assessor Marco Aurélio Garcia e do ex-presidente Lula, Dilma declarou-se avessa às barbaridades cometidas no Irã, em especial contra as mulheres.

A vinda de Mahmoud Ahmadinejad ao “Rio + 20”, não tinha outra finalidade senão a de mostrar aos demais países integrantes do evento que seu governo desfruta de um clima de absoluta normalidade, desfazendo o conceito de ser marcado por arbitrariedades de todo gênero.

O fato de não ter sido consumada a execução de Sakineh Ashtiani, embora os aiatolás tivessem outras formas de punição, não foi suficiente para recuperar a imagem do Irã junto ao atual governo brasileiro.

Em seu pronunciamento, Ahmadinejad sustentou que as guerras atuais estão baseadas na imoralidade, introduzindo em sua fala a advertência de que “a ordem internacional precisa ser redesenhada para servir tanto às necessidades materiais quanto às espirituais da raça humana”.

Em desmedido esforço para livrar-se de sua posição conservadora, acrescentou: “a figura do ser humano perfeito deve emergir de Jesus Cristo”. Assim, o Ahmadinejad que foi recepcionado, com todas as loas, pelo ex-presidente Lula, não é o mesmo que compareceu ao Rio de Janeiro, onde tentou, em vão, ser recebido pela presidente Dilma Rousseff, ainda que esta não revelasse explicitamente o motivo da recusa.

Alguns dias antes de sua chegada, o prefeito Eduardo Paes cancelou a inauguração de uma réplica das Colunas de Persépolis doada pelo governo do Irã. O evento programado para São Cristóvão ficou sem efeito, mediante a alegação de que o local ainda não estava pronto.

A resistência de nossa presidente, segundo as autoridades do Itamaraty, sinaliza com alteração de rumo da nossa política externa, sugerindo o rompimento com a era de aproximação apregoada por Lula. Este, tão empolgado com o programa nuclear de Teerã, chegou a negociar junto a Turquia um acordo que importasse no fim do impasse sobre o referido programa.

Forçoso é concluir que, embora Lula dificilmente recusasse uma reunião com Ahmadinejad, a esta altura, há rumores no sentido de que existe uma nova estratégia brasileira para isolar o presidente da república islâmica.

Esta alteração de comportamento é deveras sugestiva, ainda que não seja surpreendente, se considerada em face do que vinha ocorrendo nos últimos tempos no Oriente Médio e no Norte da África.