Por Aristoteles Atheniense
Brasil, a formação de um ministério não está condicionada a aptidão dos escolhidos. Bem mais importante é saber se os que foram recrutados pelo Executivo estarão dispostos a transigir, quando forem convocados ao Planalto para atender as conveniências da presidente, por mais despropositadas ou inoportunas que sejam.
Os nossos partidos políticos não correspondem sequer às siglas que ostentam. Quando no governo, equivalem-se na busca das vantagens pessoais, mediante expedientes que lhes assegurem a permanência no poder.
Conforme advertiu o empresário Fabio Guerra Lages, no plenário da ACMinas, a devassidão com que convivemos tem origem nas doações feitas nas campanhas eleitorais. Este investimento não pode ficar sem retorno. A compensação é reclamada tão logo é conhecido o resultado do pleito, através das mais diferentes formas de retribuição.
A reforma política placitada pelo Senado não extinguiu essas sinecuras por parte das empresas inescrupulosas; apenas vedou a ajuda financeira pelas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos. A porta continuou aberta à depravação institucionalizada.
Um dos últimos escândalos eclodiu nas hostes palacianas. Desta vez, no Ministério do Trabalho, com o desvio de recursos da ordem de R$ 400 milhões, que deveriam ter sido empregados no treinamento de operários, que foram extraviados para os dirigentes do PDT.
Tão logo o fato veio à tona, o ministro Manoel Dias, em entrevista ao jornal “O Globo”, procurou constranger a presidente Dilma Rousseff se esta ousasse demiti-lo, como estava sendo anunciado.
Segundo ele, a concretizar o seu afastamento, tomaria providências “impublicáveis”; ou, como registrou a “Folha”, colocaria “a boca no mundo”.
A apuração do vergonhoso fato afetaria a reeleição da atual presidente, com prejuízos incalculáveis à sua candidatura. Daí não ter sido o ministro Manoel Dias alijado da pasta que ocupa, sem que houvesse de parte de Dilma Rousseff a menor disposição de enfrentar a ameaça de que fora alvo.
A tendência em acomodar situações e minimizar fatos comprometedores tornou-se uma rotina, enquanto que os legítimos interesses do povo, o resguardo de princípios éticos, tornaram-se ficções, que se perdem no tempo e no espaço.
Compreensível, pois, que não houvesse de parte da presidente a menor disposição em resistir à ameaça constrangedora de que foi destinatária. Mesmo porque, segundo um de seus auxiliares, indagado a respeito da bravata, justificou que esta não merecia resposta, pois, “ninguém a levou a sério”.
Com razão lembrou Jô Soares, em 1995: “A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é coisa muito nossa”.
Triste realidade.
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