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A vergonha institucionalizada

A sequência de escândalos na política, envolvendo as maiores empresas do país, estremeceu a confiança do nosso povo, que foi tomado da sensação de que o país tornou-se irremediavelmente corrupto, sem condições de recuperar o crédito moral – externo e interno – no futuro.

O ufanismo que cultivávamos desde a poesia de Olavo Bilac, passando pela música de Ary Barroso e atingindo o movimento “pra frente Brasil, salve a seleção”, em 1970, já não mais existe.

Certo que esse orgulho foi construído na sequência dos governos nacionalistas, especialmente com Getúlio Vargas, a nos infundir um sentido de nação forte e integrada, com amplas possibilidades de converter-se numa potência.

Esse ânimo veio a sofrer oscilações quando a ordem institucional era abalada em decorrência do comportamento vergonhoso de alguns políticos, embora a maioria não estivesse identificada com essa maneira de ser.

Hoje a situação é outra: recente pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que 34% dos entrevistados confessam que atualmente têm mais pudor do que altivez em ser brasileiros.

No final de 2010, há sete anos passados, esse índice era de apenas 9%.

Some-se a essa preocupante declaração o fato de que, presentemente, para 40% dos inquiridos morar no Brasil é péssimo ou regular, embora a maioria (54%), menos avisada, acredite que seja bom ou ótimo.

Os números espelham bem o estado de espírito da sociedade, que vive momentos de tensão com a crise econômica que solapa rendimentos, inibe investimentos, projetando incertezas quanto ao dia de amanhã.

Num país com 14 milhões de desempregados constitui uma utopia admitir o fluxo de capital de investidores, em curto prazo, em razão da falta de recursos primários: saneamento básico, infraestrutura, abastecimento de água, educação, saúde pública, segurança e educação.

O desejo de mudanças, por si só, não produzirá a recuperação da vergonha perdida. Isto somente acontecerá quando as instituições democráticas forem aprimoradas com a escolha de melhores representantes no Legislativo, dotados de sensibilidade suficiente que nos permita sair deste atoleiro moral a que fomos levados.

Este resgate deve ser feito a começar da cúpula dos três Poderes da República, onde, infortunadamente, medra a desconfiança, o propósito de enriquecer, a ambição pessoal e o desamor pela Pátria enfraquecida.

Aristoteles Atheniense

Presidente da Seccional mineira da OAB por dois períodos (1979 a 1983); Secretário Geral do Conselho Federal (1993/1995); Vice-Presidente Nacional da OAB

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